E quando o Escritor é historiador?

Crítica ao “herói” moçambicano em João Paulo Borges Coelho e Ungulani Ba Ka Khosa

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15848/hh.v14i36.1655

Palavras-chave:

Literatura, História da África, Ficção

Resumo

Enfocando o conto “Balada da Xefina”, de João Paulo Borges Coelho (2005) e o romance

As mulheres do Imperador

, de Ungulani Ba Ka Khosa (2018), ambos escritores e historiadores moçambicanos, o presente texto discute a interseção entre memória, história e literatura a partir da figura do herói representada nas duas obras ficcionais. Argumenta-se que o domínio linear e moralizante sobre a narrativa nacional moçambicana e, portanto, sobre os considerados heróis é uma estratégia de legitimação discursiva fomentada pelo partido no poder desde a independência nacional (1975), em um exercício de continuar governando por meio do “script da libertação” (BORGES COELHO 2019), conforme pretende-se mostrar através de casos recentes em diálogo com os textos literários escolhidos e a historiografia produzida (e/ou silenciada) no país.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Fernanda Gallo, Universidade de Campinas

Fernanda Gallo é historiadora (UDESC), Mestre em Estudos Étnicos e Africanos (UFBA), Doutora em Antropologia Social (UNICAMP) e pós-doutoranda em Teoria e História Literária (UNICAMP) com pesquisa sobre os escritores/historiadores moçambicanos Ungulani Ba Ka Khosa e João Paulo Borges Coelho. Integra o Kaliban - Centro de Pesquisa em Estudos Pós-Coloniais e Literatura Mundial (UNICAMP) e tem desenvolvido pesquisas em diferentes áreas no que se refere a África Contemporânea.

Referências

ALMEIDA, Nuno Ramos. Ungulani Ba Ka Khosa. ‘A memória é sempre costurada.

É preciso escangalhá-la para abrir caminhos’. Jornal i, Lisboa, 3 abr. 2018. Disponível em: https://bit.ly/3qG77xZ. Acesso em: 10 mar. 2021.

ALPERS, Edward. Moçambique marítimo (séculos XIV – XXI). Revista de História, São Paulo, n. 178, p. 1-32, 2019. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/143950. Acesso em: 12 mar. 2021.

BESSA RIBEIRO, Fernando. A invenção dos heróis. Nação, história e discursos de identidade em Moçambique. Etnográfica, Lisboa, n. 2, p. 257-75, 2005.

BRAGANÇA, Aquino de; DEPELCHIN, Jacques. Da idealização da Frelimo à compreensão da história de Moçambique. Estudos Moçambicanos, Maputo, v. 5, n. 6, p. 29-52, 1986.

BRUGIONI, Elena. Narrando O(s) Índico(s). Reflexões em torno das ‘geografias transnacionais do imaginário’. Diacrítica, Minho, v. 27, n. 3, p. 121-136, 2013.

CALDEIRA, Aderito. Renamo quer que Dhlakama, ‘pai da democracia e descentralização’, seja herói nacional em Moçambique. Jornal Verdade, Maputo, 10 mai. 2019.

BORGES COELHO, João Paulo. Índicos Indícios - estórias. Maputo: Ndjira, 2010.

BORGES COELHO, João Paulo. Índicos Indícios I: Setentrião. Lisboa: Caminho, 2005a.

BORGES COELHO, João Paulo. Índicos Indícios II: Meridião. Lisboa: Caminho, 2005b.

BORGES COELHO, João Paulo. Abrir a fábula: Questões da política do passado em Moçambique. Revista Crítica de Ciências Sociais, Coimbra, n. 106, p. 153-166, 2015.

BORGES COELHO, João Paulo. Política e História contemporânea em Moçambique: dez notas epistemológicas. Revista de História, São Paulo, n. 178, p. 1-19, 2019.

CAN, Nazir. A Ilha de Moçambique na ficção de João Paulo Borges Coelho: tensões islâmicas, um pano encantado e os Índicos Indícios. Revista Todas as Musas, São Paulo, n. 8, p. 1-11, 2016.

CHAVES, Rita. Autobiografias em Moçambique: a escrita como monumento (2001-2013). Revista de História, São Paulo, n. 178, p. 1-21, 2019.

CHIZIANE, Paulina. As andorinhas. Belo Horizonte: Nandyala, 2017.

COUTO, Mia. Cronicando. Lisboa: Caminho, 1991.

COUTO, Mia. E se Obama fosse africano? Lisboa: Caminho, 2009.

DARCH, Colin. Transversalidade no Centro de Estudos Africanos em Moçambique, 1976-1986: a construção de uma nova visão nas ciências sociais. Revista de antropologia, São Paulo, v. 60, n. 3, p. 112-133, 2017.

DEPELCHIN, Jacques. Porque falar do Aquino de Bragança? Pambazuka News, 19 abr. 2018. Disponível em: https://bit.ly/3cnPhdW. Acesso em: 11 mar. 2021.

DINERMAN, Alice. Moçambique depois do socialismo, a independência revisitada. Relações Internacionais, Lisboa, n. 15, p. 101-124, 2007.

FERNANDES, Carlos. Intelectuais orgânicos e legitimação do estado no Moçambique pós-independência: o caso do Centro de Estudos Africanos (1975-1985). Afro-Ásia, Salvador, n. 48, p. 11-44, 2013.

GALLO, Fernanda. (Des)encontros do Brasil com Moçambique: o caso da Vale em Moatize. In: MORAIS, Carolina Maíra Gomes; PEREIRA, Matheus Serva; MATTOS, Regiane Augusto de (org.). Encontros com Moçambique. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio,

p. 235-264.

GEFFRAY, Christian. A Causa das Armas: Antropologia da Guerra Contemporânea. Porto: Afrontamento, 1991.

HUTCHEON, Linda. Poética do pós-modernismo: história, teoria, ficção. Tradução de Ricardo Cruz. Rio de Janeiro: Imago, 1991.

KHOSA, Ungulani Ba Ka. Gungunhana: Ualalapi/As mulheres do Imperador. São Paulo: Kapulana, 2018.

KHOSA, Ungulani Ba Ka. Entre memórias silenciadas. Maputo: Alcance Editores, 2013.

KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Tradução de Wilma Patrícia Maas; Carlos Almeida Pereira. Rio de Janeiro: Contraponto; Editora PUC-Rio, 2012.

KUNDERA, Milan. A ignorância. Tradução de Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

LABAN, Michel. Moçambique: encontro com escritores. Porto: Fundação eng. António de Almeida, 1998.

LARANJEIRA, Lia Dias. Mashinamu na Uhuru: arte makonde e história política de Moçambique (1950–1974). São Paulo: Intermeios, 2018.

LEITE, Ana Mafalda. Oralidades e Escritas nas Literaturas Africanas: Ualalapi, Ungulani Ba Ka Kosa. Lisboa: Colibri, 1998.

LEITE, Ana Mafalda. Reescrever os limiares da História para repensar a Nação. In: LEITE, Ana Mafalda et. al (org.). Nação e Narrativa Pós-Colonial: Angola e Moçambique. Ensaios. Lisboa: Colibri, 2012. p. 107-122.

LEONEL, Matias. “Moçambique: CIP exige cassação de deputada da FRELIMO”. DW,

mai. 2019. Disponível em: https://p.dw.com/p/3IFL7. Acesso em: 20 mai. 2020.

MBEMBE, Achille. Provisional Notes on the Postcolony. Journal of the International African Institute, Cambridge, v. 62, n. 1, p. 3-37, 1992.

NENANE, Armando. Frelimo compra museu da Revolução. Macua, 27 ago., 2010. Disponível em: https://bit.ly/3tea2zz. Acesso em: 07 mai. 2019.

NOA, Francisco. Perto do fragmento, a totalidade. Olhares sobre a literatura e o mundo. São Paulo: Editora Kapulana, 2015.

NGOENHA Severino; BUANAISSA, Eduardo. Fronteiras da Filosofia para a construção da democracia em Moçambique. ayalaboratorio, 2019. Disponível em: https://bit.ly/2ONIe6l. Acesso em 10 mar. 2021

POLLAK, Michael. Memória, Esquecimento, Silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, p. 3-15, 1989.

RAJÃO, Camila Lobato. A História é uma ficção controlada – a Frelimo e a literatura moçambicana. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LITERATURA COMPARADA: CIRCULAÇÃO, TRAMAS & SENTIDOS NA LITERATURA (ABRALIC), XVI. Anais [...]. 2018, p. 2805-2814.

RIBEIRO TEIXEIRA, Vanessa. De Gaza ao Zambeze: a reinvenção da história em Ualalapi e Choriro, de Ungulani Ba Ka Khosa. Mulemba, Rio de Janeiro, v.1, n. 10, p. 110- 121, 2014.

RICOEUR, Paul. Tempo e narrativa. (tomo III). Campinas: Papirus, 1997.

TAVARES, Maria. Karingana Wa Karingana: Representações do heróico feminino em Moçambique. In: BRUGIONI, Elena et. al (org.). Áfricas contemporâneas: Contemporary Africas. Braga: Centro de Estudos Humanísticos (CEHUM), 2010. p. 115-130.

VENTURA, Susana Ramos. Considerações sobre a obra ficcional de João Paulo Borges Coelho. Navegações, Porto Alegre, v. 2, n. 1, p. 49-52, 2009.

TEIXEIRA SANTOS, Patrícia. Arquivo e construção da nação – Entrevista com Ana Maria Camargo. Revista do Arquivo Geral da cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, n. 15, p. 285-295, 2018.

TUTIKIAN, Jane Fraga. Ungulani Ba Ka Khosa: o romancista das memórias marginalizadas. Mulemba, Rio de Janeiro, v. 1, n. 11, p. 60- 76, 2014.

WERBNER, Richard. Beyond oblivion: Confronting memory crisis. In: WERBNER, Richard (org.). Memory and the postcolony. African anthropology and the critique of power. Londres: Zed Books, 1998. p. 1-17.

WHITE, Hayden. Meta-história: A imaginação histórica do Século XIX. Tradução de José Laurêncio de Melo. São Paulo: EDUSP, 1995.

WHITE, Hayden. Trópicos do discurso: ensaios sobre a crítica da cultura. São Paulo: EDUSP, 1994.

SEPÚLVEDA, Luís. A sombra do que fomos. Tradução de Helena Pitta. Porto: Porto Editora, 2019.

Downloads

Publicado

2021-08-31

Como Citar

GALLO, F. E quando o Escritor é historiador? Crítica ao “herói” moçambicano em João Paulo Borges Coelho e Ungulani Ba Ka Khosa. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 14, n. 36, p. 105–132, 2021. DOI: 10.15848/hh.v14i36.1655. Disponível em: https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/1655. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

Dossiê: História como (In)disciplina