Interseção de subjetividades: a presença indígena na escrita afetada dos jesuítas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15848/hh.v12i30.1431

Palavras-chave:

História indígena, Relações culturais, Colonialismo

Resumo

A produção escrita desenvolvida pelos membros da Companhia de Jesus ao longo da experiência reducional na América espanhola adquiriu novo fôlego de análise quando os estudiosos compreenderam que esses registros compunham a interseção entre as subjetividades dos seus autores e as demandas formais que a hierarquia da Ordem impunha aos missionários. Por isso, são frequentes os registros que contêm descrições detalhadas de cerimônias, práticas xamânicas, relatos sobre a mitologia e de outros aspectos relativos ao conhecimento prático indígena, que se situam entre a obrigação de registrar e o interesse do jesuíta. Neste artigo, pretendemos demonstrar que a presença, a atuação e os saberes dos índios também provocaram perturbações nesses registros, gerando o que chamamos de uma escrita afetada: a expressão discreta, já que não é proveniente de um esforço de convencimento por parte do narrador, do resultado da ponderação do missionário ou da influência direta ou indireta que os nativos exerceram a partir do contato e convívio reducional. 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

AGNOLIN, Adone. Jesuítas e Selvagens: a negociação da fé no encontro catequético-ritual americano-tupi (Séculos XVI-XVII). São Paulo: Humanitas Editorial, 2007.

AGNOLIN, Adone. Catequese da língua e gramática ritual na conversão indígena: limites e espaço para o processo de conversão e negociação jesuítica e indígena na América portuguesa (sécs. XVI-XVII). In: FERNANDES, Eunícia Barros Barcelos (org.). A Companhia de Jesus e os índios. Curitiba: Editora Prismas, 2016. p. 23-49.

ANAGNOSTOU, Sabine; FECHNER, Fabian. Historia Natural y Farmacia misionera entre los jesuitas en el Paraguay. In: WILDE, Guillermo (ed.). Saberes de la conversión: jesuitas, indígenas e imperios coloniales en las fronteras de la cristiandad. Buenos Aires: SB, 2011. p. 175-190.

BARTHES, Roland. El Placer del Texto y Lección Inaugural de la cátedra de semiología literaria del Còllege de France. Buenos Aires: Siglo XXI, 2008 [1978].

CARGNEL, Josefina. La historiografía de la Compañía de Jesús. Pedro Lozano, su historiador. Tese (Doutorado em História). Facultad de Filosofía y Humanidades, Universidad Nacional de Córdoba, Argentina, 2015.

CARGNEL, Josefina; PAZ, Carlos D. Crónicas de la Barbarie. Categorías y formas de organización de la política nativa chaqueña, analizadas y narradas por la Compañía de Jesús. Páginas. Revista digital de la Escuela de Historia, ano 4, n. 7, 2012.

CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Cultura com Aspas. São Paulo: Cosac Naify, 2009.

CASTELNAU-L’ESTOILE, Charlotte. Interações missionárias e matrimônios de índios em zonas de fronteiras (Maranhão, início do século XVII). Tempo, v. 19, n. 35, p. 65-82, 2013. DOI: https://doi.org/10.5533/TEM-1980-542X-2013173505

CERTEAU, Michel. A escrita da História. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002 [1975].

DOBRIZHOFFER, Martín. Historia de los Abipones. Resistencia: Universidad Nacional del Nordeste, 3 tomos, 1967-1970 [1784].

EGIDO, Teófanes; BURRIEZA, Javier; REVUELTA, Manuel. Los jesuitas en España y en el mundo hispánico. Madri: Marcial Pons, 2004.

FAVRET-SAADA, Jeanne. Ser afetado. Cadernos de Campo, n. 13, p. 155-161, 2005 [1990]. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v13i13p155-161

FERES JÚNIOR, João. O conceito de América: conceito básico ou contra-conceito? Jahrbuch fur Geschichte Lateinamerikas, v. 45, p. 9-29, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.7767/jbla.2008.45.1.9. Acesso em: 25 abr. 2018. DOI: https://doi.org/10.7767/jbla.2008.45.1.9

FLECK, Eliane Cristina Deckmann. Concepções e saberes distintos, encontros possíveis: uma reflexão sobre os papéis desempenhados pelos indígenas nas fontes jesuíticas (Província Jesuítica do Paraguai, séculos XVII e XVIII). In: SANTOS, Maria Cristina dos; FELIPPE, Guilherme Galhegos (orgs.). Protagonismo ameríndio de ontem e hoje. Jundiaí: Paco Editorial, 2016. p. 53-90.

FLECK, Eliane Cristina Deckmann; RODRIGUES, Luiz Fernando Medeiros; MARTINS, Maria Cristina Bohn. Enlaçar mundos: três jesuítas e duas trajetórias no Novo Mundo. São Leopoldo: Oikos; Editora Unisinos, 2014.

FURLONG, Guillermo, SJ. Joaquín Camaño, S. J. y su “Noticia del Gran Chaco” (1778). Buenos Aires: Librería del Plata, 1955.

GINZBURG, Carlo. O fio e os rastros: verdadeiro, falso, fictício. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

HARTOG, François. O Espelho de Heródoto: ensaio sobre a representação do outro. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999 [1980].

JOLÍS, José. Ensayo sobre la Historia Natural del Gran Chaco. Resistencia: UNNE/Facultad de Humanidades-Instituto de Historia, 1972 [1789].

JUANES, Benigno. La Elección Ignaciana por el Segundo y Tercer Tiempo. Centrum Ignatianum Spiritualitatis: Roma, 1980.

JUSTO, María de la Soledad. Paraguay y los debates jesuíticos sobre la inferioridad de la naturaleza americana. In: WILDE, Guillermo (ed.). Saberes de la conversión: jesuitas, indígenas e imperios coloniales en las fronteras de la cristiandad. Buenos Aires: SB, 2011. p. 155-174.

KELLY, José Antonio. Fractalidade e troca de perspectivas. Mana, v. 7, n. 2, p. 95-132, 2001. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-93132001000200004. Acesso em: 24 jan. 2018. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-93132001000200004

LARA, Lucas Ferreira de. A música instrumental: o padre Antônio Sepp, S. J., e as práticas musicais nas reduções jesuíticas (1691-1733). Dissertação (Mestrado em História Social). Departamento de História, Universidade de São Paulo, 2015.

LÉVI-STRAUSS, Claude. O Pensamento Selvagem. Campinas, Papirus, 1989 [1962].

LÉVI-STRAUSS, Claude. Mito e Significado. Lisboa: Edições 70, 1981 [1978].

LINDO, Luiz Antônio. A América dividida entre Gabriel Soares de Sousa e Cornelius de Pauw. Cadernos PROLAM/USP, v. 11, n. 21, p. 35-44, 2012. Disponível em: http://dx.doi.org/10.11606/issn.1676-6288.prolam.2012.82503. Acesso em: 17 jul. 2018. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.1676-6288.prolam.2012.82503

LONDOÑO, Fernando Torres. Escrevendo cartas. Jesuítas, escrita e missão no século XVI. Revista Brasileira de História, v. 22, n. 43, p. 11-32, 2002. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-01882002000100002

LOZANO, Pedro, S.J. Descripción chorographica de Terreno Ríos, Arboles, y Animales de las dilatadísimas provincias del Gran Chaco, Gualamba, y de los Ritos y Costumbres de las innumerables naciones de barbaros e infieles que le habitan. Córdoba: Colegio de Asunción, 1733.

MARTÍNEZ, Fernando Betancour. Significación e Historia: el problema del límite en el documento histórico. Estudios de Historia Moderna y Contemporánea de México,

n. 12, p. 59-78, 2001. DOI: https://doi.org/10.2307/4614105

MILLONES FIGUEROA, Luís; LEDEZMA, Domingo. Introduccion: los jesuitas y lo conocimiento de la naturaleza americana. In: MILLONES FIGUEROA, Luís; LEDEZMA, Domingo. El saber de los jesuitas, historias naturales y el Nuevo Mundo. Frankfurt: Vervuert; Madrid: Iberoamericana, 2005, p. 9-26.

MORALES, Martín M. La respiración de ausentes. Itinerario por la escritura jesuítica. In: WILDE, Guillermo (Org.). Saberes de la conversión: jesuitas, indígenas e imperios coloniales en las fronteras de la cristiandad. Buenos Aires: SB, 2011, p. 31-59.

MÖRNER, Magnus. La Corona Española y los Foráneos en los Pueblos de Indios de América. Ediciones de Cultura Hispánica: Madrid, 1999.

NEUMANN, Eduardo. Letra de índios. Cultura escrita, comunicação e memória indígena nas Reduções do Paraguai. São Bernardo do Campo/SP: Nhanduti Editora, 2015.

NEUMANN, Eduardo. “Ni V. E. ignora que no he tenido ociosa la pluma”: A polémica produção escrita de um jesuíta durante o Tratado de Limites. Revista de Estudos de Cultura, n. 5, p. 35-48, 2016. DOI: https://doi.org/10.32748/revec.v0i5.5933

OLLERO, Héctor Sainz; OLLERO, Helios Sainz; CARDONA, Francisco Suárez; ONTAÑÓN, Miguel Vázquez de Castro. José Sánchez Labrador y los naturalistas jesuitas del Río de la Plata. La aportación de los misioneros jesuitas del siglo XVIII a los estudios medioambientales en el Virreinato del Río de la Plata, a través de la obra de José Sánchez Labrador. Madri: MOPU, 1989.

PANAZZOLO, Lidiane Ferreira; MASSIMI, Marina. Categorias antropológicas nos Catálogos Trienais da Companhia de Jesus. IHS. Antiguos jesuitas en Iberoamérica, v. 3, n. 1, p. 21-45, 2015. DOI: https://doi.org/10.31057/2314.3908.v3.n1.17614

PAUCKE, Florián, S.J. Hacia Allá y Para Acá. Santa Fe: Ministerio de Innovación y Cultura de la Provincia de Santa Fe, 2010 [1767].

PAZ, Carlos D. “Pues nosotros somos capaces…” Reclamos indígenas en las fronteras abipón - santafesinas. Segunda mitad del siglo XVIII. Anuario IEHS, n. 22, p. 273-300, 2007.

PAZ, Carlos D. La Modernidad de los Bárbaros. Los abipones de San Jerónimo del Rey y sus relaciones sociales con las fronteras santafesinas del Chaco. História Unisinos, v. 13, n. 3, p. 253-264, 2009. Disponível em: http://dx.doi.org/10.4013/htu.2009.133.04. Acesso em: 06 mar. 2013. DOI: https://doi.org/10.4013/htu.2009.133.04

PÉCORA, Alcir. Cartas à segunda escolástica. In: NOVAES, Adauto (org.). A Outra Margem do Ocidente. São Paulo: Minc-Funarte, Companhia das Letras, 1999, p. 373-414.

PÉCORA, Alcir. Prefácio: occide et manduca. In: LUZ, Guilherme Amaral. Carne Humana. Canibalismo e retórica na América Portuguesa. Uberlândia:

EDUFU, 2006. p. 11-19. DOI: https://doi.org/10.1088/2058-7058/19/8/19

SAEGER, James S. The Chaco Mission Frontier: The guaycuruan experience. University of Arizona Press: Tucson, 2000.

SANTAMARÍA, Daniel. Chaco Gualamba: del monte salvaje al desierto ilustrado. Cuadernos del Duende: San Salvador de Jujuy, 2007.

SANTOS, Maria Cristina dos. Lições de Erovocá: estratégicas narrativas do “eu” a partir do “outro”. Estudos Ibero-Americanos, v. 42, n. 3, p. 1095-1167, 2016. Disponível em: http://dx.doi.org/10.15448/1980-864X.2016.3.24070. Acesso em: 26 jun. 2017. DOI: https://doi.org/10.15448/1980-864X.2016.3.24070

STRATHERN, Marilyn. O Efeito Etnográfico e outros ensaios. São Paulo: CosacNaify, 2014.

VALDÉS, José García de Castro. Polanco. El humanismo de los jesuitas (1517-1576). Bilbao; Santander; Madrid: Mensajero; Sal Terrae; Universidad

Pontificia Comillas, 2012.

VALLE, Ivonne del. Escribiendo desde los márgenes: colonialismo y jesuitas en el siglo XVIII. México:

Siglo XXI, 2009.

VILAÇA, Aparecida. Conversão, predação e perspectiva. Mana, v. 14, n. 1, p. 173-204, 2008. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-93132008000100007. Acesso em: 20 dez. 2017. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-93132008000100007

VITAR, Beatriz. Guerra y Misiones en la Frontera Chaqueña del Tucumán (1700-1767). Consejo Superior de Investigaciones Científicas: Madrid, 1997.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. O mármore e a murta: sobre a inconstância da alma selvagem. In: VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A Inconstância da Alma Selvagem. São Paulo: Cosac Naify, [1992] 2002. p. 183-264.

WILDE, Guillermo. Introducción: trazos de alteridad. In: WILDE, Guillermo. Saberes de la conversión: jesuitas, indígenas e imperios coloniales en las fronteras de la cristiandad. Buenos Aires: SB, 2011. p. 15-27.

WRIGHT, Jonathan. Os jesuítas. Missões, mitos e histórias. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2006.

Downloads

Publicado

2019-08-27

Como Citar

FELIPPE, G. G.; PAZ, C. D. Interseção de subjetividades: a presença indígena na escrita afetada dos jesuítas. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 12, n. 30, 2019. DOI: 10.15848/hh.v12i30.1431. Disponível em: https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/1431. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

Artigo