A agência dos mortos na teoria ator-rede a partir da descrição do translado da múmia de Ramsés II em Bruno Latour

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15848/hh.v15i39.1889

Palavras-chave:

Ação, Anacronismo, Temporalidades

Resumo

O objetivo deste artigo é traduzir a teoria ator-rede para a historiografia com a finalidade de descrever a agência de
atores do “passado” no “presente”. Isto será feito a partir do resgate da descrição do translado da múmia de Ramsés II do Museu do Cairo para Paris em 1976, realizada por Bruno Latour em textos nos quais sustenta a sua tese da historicidade dos objetos científicos. A partir da descrição deste fenômeno, neste artigo visa-se a criar ferramentas etnográficas que permitam utilizar a teoria ator-rede na historiografia para traçar as políticas do tempo em redes compostas por agências multitemporais. Essa abordagem tem por justificativa contribuir para a investigação sobre as tanatoagências no “presente” como participantes legítimas que apresentam proposições nas controvérsias políticas. Por fim, neste artigo conclui-se que a teoria ator-rede pode ser uma metodologia eficiente para a descrição da agência dos mortos na coetaneidade desde que sejam consideradas as mediações implicadas nos processos de temporalização e seja assumido um pluralismo ontológico das formas de se fabricar o tempo.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

AUTHIER-REVUZ, Jacqueline. Heterogeneidade mostrada e heterogeneidade constitutiva: elementos para uma abordagem do outro no discurso. Traduzido por Alda Scher e Elsa Maria Nitsche Ortiz. In: AUTHIER-REVUZ, Jacqueline. Entre a transparência e a opacidade: um estudo enunciativo do sentido. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. p. 11-80.

BENVENISTE, Émile. Problemas de linguística geral I. Traduzido por Maria da Glória Novak e Maria Luíza Neri. Campinas: Pontes; Editora da Unicamp, 1991.

BEVERNAGE, Berber. “A passeidade do passado”: reflexões sobre a política da historicização e a crise da passividade historicista. Revista de Teoria da História, Goiânia, n. 24, v. 1, p. 21-39, 2021.

BURKE, Peter. O conceito de anacronismo de Petrarca a Poussin. Política e trabalho: revista de ciências sociais, João Pessoa, n. 39, p. 195-220, out. de 2013.

CALLON, Michel. Algunos elementos para una sociología de la traducción: la domesticación de las vieiras y los pescadores de la bahía de St. Brieuc. In: PEREIRA, Alberto Cotillo et al. (ed.). Sociología de la ciencia y la tecnología. Madri: CSIC, 1995. p. 259-282.

DISCH, Lisa. Representation as “spokespersonship”: Bruno Latour’s political theory. Parallax, Londres, v. 14, n. 3, p. 88-100, 2008.

FARNSWORTH, Clyde H. Paris Mounts Honor Guard For a Mummy. The New York Times, Nova York, 28 set. 1976. p. 5.

FABIAN, Johannes. O tempo e o outro: como a antropologia estabelece o seu objeto. Traduzido por Denise Jardim Duarte. Petrópolis: Editora Vozes, 2013.

FEBVRE, Lucien. O problema da incredulidade no século XVI: a religião de Rabelais. Traduzido por Maria Lúcia Machado e José Eduardo dos Santos Lohner. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

HARTOG, François; REVEL, Jacques. Historians and the present conjuncture. In: REVEL, Jacques; LEVI, Giovanni. Political uses of the past: the recent Mediterranean experience. Londres: Routledge, 2014. p. 1-12.

HARTOG, François. Regimes de historicidade: presentismo e experiências do tempo. Traduzido por Andréa Souza de Menezes, Bruna Beffart, Camila Rocha de Moraes, Maria Cristina de Alencar Silva e Maria Helena Martins. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Traduzido por Wilma Patrícia Maas e Carlos Almeida Pereira. Rio de Janeiro: Contraponto; PUC-Rio, 2006.

LATOUR, Bruno; WOOLGAR, Steve. A vida de laboratório: a produção dos fatos científicos. Traduzido por Ângela Ramalho Vianna. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1997a.

LATOUR, Bruno. Trains of thought: Piaget, formalism, and the fifth dimension. Common Knowledge, Durham, v. 6, n. 3, p. 170-191, 1997b.

LATOUR, Bruno. On recalling ANT. In: LAW, John; HASSARD, John. (ed.). Actor-network theory and after. Oxford: Blackwell, 1999. p. 15-25.

LATOUR, Bruno. On the partial existence of existing and non-existing objects. In: DASTON, Lorraine (org.). Biographies of scientific objects. Chicago: Chicago University Press, 2000. p. 247-269.

LATOUR, Bruno. Políticas da natureza: como fazer ciência na democracia. Traduzido por Gilson César Cardoso de Souza. Bauru: Edusc, 2004.

LATOUR, Bruno. Crónicas de un amante de las ciencias. Traduzido para o espanhol por Lucía Vogelfang. Buenos Aires: Dedalus, 2010.

LATOUR, Bruno. Cogitamus: seis cartas sobre as humanidades científicas. Traduzido para o português por Jamille Pinheiro Dias. São Paulo: Editora 34, 2016.

LE GOFF, Jacques. O tempo de trabalho na “crise” do século XIV: do tempo medieval ao tempo moderno. In: LE GOFF, Jacques. Para um novo conceito de Idade Média: tempo, trabalho e cultura no Ocidente. Traduzido por Maria Helena da Costa Dias. Lisboa: Estampa, 1979. p. 61-73.

LORENZ, Chris. Blurred lines: history, memory and experience of time. International Journal for History, Culture and Modernity, Amsterdã, v. 2, n. 1, p. 43-63, 2014.

MARTINDALE, Charles. Redeeming the text: latin poetry and the hermeneutics of reception. Cambridge: Cambridge University Press, 1993.

PALMER, Allen W. Negotiation and resistance in global networks: the 1884 International Meridian Conference. Mass communication and society, Londres, v. 5, n. 1, p. 7-24, 2002.

POOLE, Reginald. Imperial influences on the forms of papal documents. Londres: British Academy, 1917.

POOLE, Reginald. Medieval reckonings of time. Londres: SPCK, 1918.

RANCIÈRE, Jacques. O conceito de anacronismo e a verdade do historiador. In: SALOMON, Marlon (org.). História, verdade e tempo. Traduzido por Mônica Costa Netto. Chapecó: Argos, 2011. p. 21-49.

RANCIÈRE, Jacques. Os nomes da história: um ensaio de poética do saber. Tradução de Eduardo Guimarães e Eni Puccinelli Orlandi. São Paulo: EDUC/Pontes, 1994.

ROTH, Norman. Calendar. In: GERLI, E. Michael (org.). Medieval Iberia: an encyclopedia. London: Routledge, 2013. p. 190.

SCHIFFMAN, Zachary Sayre. The birth of the past. Baltimore: The John Hopkins University Press, 2011.

SILVA, Glaydson José da; FUNARI; Pedro Paulo; GARRAFONI, Renata Senna. Recepções da Antiguidade e usos do passado: estabelecimento dos campos e sua presença na realidade brasileira. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 40, n. 84, p. 43-66, mai-ago. 2020.

STENGERS, Isabelle. A invenção das ciências modernas. Traduzido por Max Altman. São Paulo: Editora 34, 2002.

TARDE, Gabriel. Monadologia e sociologia e outros ensaios. Traduzido por Paulo Neves. São Paulo: Cosac Naify, 2007.

TARDREW, C. Nos savants au secours de Ramses, tombé malade 3000 ans après sa mort. Paris Match, Paris, n. 1435, 26 nov. 1976. p. 74-75.

TRAVERSO, Enzo. O passado, modos de usar: história, memória e política. Traduzido por Tiago Avó. Lisboa: Unipop, 2012.

VARGAS, Anderson Zalewski. As recepções e as conformações de passado e presente. Heródoto, Guarulhos, v. 4, n. 2, p. 7-17, jul.-dez. de 2019.

WHITROW, G. J. O tempo na história: concepções sobre o tempo da pré-história aos nossos dias. Traduzido por Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.

ZERUBAVEL, Eviatar. The standardization of time: a sociohistorical perspective. American Journal of Sociology, Chicago, v. 88, n. 1, p. 1-23, 1982.

Downloads

Publicado

2022-08-27

Como Citar

QUIRIM, D. A agência dos mortos na teoria ator-rede a partir da descrição do translado da múmia de Ramsés II em Bruno Latour. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 15, n. 39, p. 229–258, 2022. DOI: 10.15848/hh.v15i39.1889. Disponível em: https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/1889. Acesso em: 30 abr. 2024.

Edição

Seção

Dossiê: Rememoración: entre agencia y actualización del pasado