Figurações do canibalismo na história intelectual brasileira do século XX: ciências humanas, artes e temporalidades

Autores

  • Francine Iegelski uff

DOI:

https://doi.org/10.15848/hh.v15i38.1805

Palavras-chave:

História intelectual brasileira, Temporalidades, Regimes de historicidade

Resumo

Os cronistas e viajantes do século XVI deixaram interessantes registros de seu espanto diante do canibalismo praticado pelos povos indígenas que viviam na costa das terras brasileiras. Desde então, o motivo do canibalismo manteve uma existência vigorosa em nossa história intelectual. Ele integra uma história de longa duração: tem mais de cinco séculos e esteve presente em momentos decisivos e exemplares do pensamento brasileiro, tanto nas artes quanto nas humanidades. Ao desenharmos o movimento das figurações do canibalismo na história intelectual brasileira do século XX, estabelecemos uma possível conexão entre as discussões em curso na historiografia francesa e na etnologia indígena, via os trabalhos de François Hartog e de Eduardo Viveiros de Castro, sobre as múltiplas formas de temporalidades.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Francine Iegelski, uff

Referências

ABREU, João Capistrano de. Capítulos de História Colonial (1500-1800). Brasília: Conselho Editorial do Senado Federal, 1998 [1907].

ALMEIDA, Fernando Ozorio de.; NEVES, Eduardo Góes. Evidências arqueológicas para a origem dos Tupi-Guarani no leste da Amazônia. Mana, Rio de Janeiro, v. 21, n.3, 2015. p. 499-525. DOI: 10.1590/0104-93132015v21n3p499. Disponível em:chttps://www.scielo.br/pdf/mana/v21n3/0104-9313-mana-21-03-00499.pdf. Acessado em: jan. de 2020.

ANDRADE, Oswald de. Manifesto Antropófago. In: ANDRADE, Oswald de. Manifesto Antropófago e outros textos. Jorge Schwartz et Gênese Andrade (ed.). São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2017 [1928]. p. 43-60.

AUGÉ, Marc. Qui donc est l’autre? Paris: Odile Jacob, 2017.

BOPP, Raul. Vida e morte da Antropofagia. Rio de Janeiro: José Olympio, 2012 [1977]. E-book, n.p.

CAMPOS, Augusto de. Revistas Re-Vistas: Os Antropófagos. In: CAMPOS, Augusto de. Poesia Antipoesia Antropofagia & Cia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015 [1975]. p. 132-154.

CAMPOS, Haroldo de. Da Razão Antropofágica: Diálogo e Diferença na Cultura Brasileira. In: CAMPOS, Haroldo de. Metalinguagem & outras metas. São Paulo: Editora Perspectiva, 2004 [1980]. p. 231-255.

CEZAR, Temístocles. Ser historiador no século XIX: o caso Varnhagen. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2018.

CLASTRES, Hélène. Les beaux-frères ennemis. A propos du cannibalisme Tupinamba. Nouvelle Revue de Psychanalyse, Paris, n. 6, 1972. p. 71-82.

CLASTRES, Hélène. La terre sans mal, le prophétisme tupi-guarani. Paris: Éditions du Seuil, 1975.

CUNHA, Manuela Carneiro da; VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Vingança e temporalidade: os Tupinamba. Journal de la Société des Américanistes, Paris, n. 71, 1985. p. 193-208.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Kafka. Para uma literatura menor. Trad. Rafael Godinho. Lisboa: Assírio & Alvim, 2003 [1975].

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia 2, v. 4. Trad. Suely Rolnik. São Paulo: Editora 34, 2012 [1980].

FAUSTO, Carlos Fausto. Fragmentos de história e cultura tupinambá: da etnologia como instrumento crítico de conhecimento etno-histórico. In: Carneiro da Cunha, Manuela (org.), História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, Secretaria Municipal de Cultura e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, 1992. p. 381-396.

FAUSTO, Carlos. Se Deus fosse jaguar: canibalismo e cristianismo entre os Guarani (séculos XVI-XX). Mana, Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, 2005. p. 385-481. DOI: 10.1590/S0104-93132005000200003. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/mana/v11n2/27452.pdf. Acessado em: jan. de 2019.

FÉDIDA, Pierre. Le cannibale mélancolique. Nouvelle Revue de Psychanalyse, Paris, n. 6, 1972. p. 123-127.

FERNANDES, Florestan. A função social da guerra na sociedade tupinambá. São Paulo: Editora Globo, 2006 [1952].

GÂNDAVO, Pero de Magalhães. A primeira história do Brasil. História da província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 2004 [1576].

GUILLE-ESCURET, Georges. Les mangeurs d’autres. Civilisation et cannibalisme, Paris: EHESS, Cahiers de l’Homme, n. 14, 2012.

GOTLIB, Nádia Battella. Tarsila do Amaral: a modernista. São Paulo: Editora Senac, 1998.

HARTOG, François. Anciens, modernes, sauvages. Paris : Galaade Éditions, 2005.

HARTOG, François. Confrontations avec l’histoire. Paris: Gallimard, 2021.

HERKENHOFF, Paulo. Um entre outros. In: HERKENHOFF, Paulo; PEDROSA, Adriano (curadores). XXIV Bienal de São Paulo: arte Contemporânea Brasileira: um e/entre outro/s. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1998.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do Paraíso. Os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2010 [1959].

IEGELSKI, Francine. Resfriamento das sociedades quentes? Crítica da modernidade, história intelectual, história política. Revista de História, São Paulo, n. 175, 2016. p. 385-414. DOI: 10.11606/issn.2316-9141.rh.2016.109305. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rh/n175/2316-9141-rh-175-00385.pdf. Acessado em: jun. de 2020.

KILANI, Mondher. Du goût de l’autre. Fragments d’un discours cannibale. Paris: Seuil, 2018.

LESTRINGANT, Frank. O canibal. Grandeza e decadência. Trad. M.L.M. Del Priore. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1997 [1994].

LÉVI-STRAUSS, Claude. Paroles données. Paris: Plon, 1984.

LÉVI-STRAUSS, Claude. Histoire de lynx. Paris: Pocket, 2004 [1991].

LÉVI-STRAUSS, Claude. Montaigne et l’Amérique. In: LÉVI-STRAUSS, Claude. Nous sommes tous des cannibales. Paris: Éditions du Seuil, 2013 [1992]. p. 145-150.

LÉVI-STRAUSS, Claude. Somos todos canibais. Trad. Dorothea Voegeli Passetti. Verve: revista semestral autogestionária do Nu-Sol. São Paulo. n.9, 1993] 2006. p. 13-21. DOI: 10.23925/verve.v0i9.5123. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/verve/article/view/5123/3650. Acesso em: 15 dez. 2020.

MAGALHÃES, José Vieira Couto de. O selvagem. São Paulo: Comp. Ed. Nacional, [1876] 3ª ed, 1935.

MÉTRAUX, Alfred. La religion des Tupinamba et ses rapports avec celle des autres tribus tupi-guarani. Paris: Presses Universitaires de France, [1928] 2014.

MILLIET, Sergio. Visão do paraíso. O Estado de São Paulo, São Paulo, 06 de dez. 1959, p. 18.

MONTAIGNE, Michel de. Essais. Livre premier. éd. par Pierre Michel. Paris: Folio-Gallimard, [1580] 1965.

MONTEIRO, John Manuel. Negros da terra. Índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Cia das Letras, 1994.

MONTEIRO, John Manuel. Tupis, Tapuias e historiadores. Estudos de História Indígena e do Indigenismo. 2001. (Tese Apresentada para o Concurso de Livre Docência em Antropologia). Departamento de Antropologia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

NETO, Mauro Franco; GAIO, Henrique Pinheiro Costa. Antropofagia em dois tempos: inverter a história, tensionar o presente. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 13, n. 32, 2020. p. 185-220. DOI: 10.15848/hh.v13i32.1504. Disponível em: https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/1504. Acesso em: 10 jan. 2021.

NÓBREGA, Padre Manoel da. Diálogo Sobre a Conversão do Gentio. Lisboa: Edição Comemorativa do IV Centenário de São Paulo, 1954 [1556-1557].

NUNES, Benedito. Antropofagia ao alcance de todos. In: Andrade, Oswald de. A utopia antropofágica. São Paulo: Globo/ Secretaria da Cultura, 1990 [1970]. p. 5-39.

PIGNATARI, Décio. Depoimento 2. In: PIGNATARI, Décio. Contracomunicação. São Paulo: Ateliê Editorial, [1969] 2004. p. 31-32.

RAMINELLI, Ronald. Imagens da colonização. A Representação do Índio de Caminha a Vieira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1996.

SCHWARTZ, Jorge. Vanguarda e cosmopolitismo na década de 20: Olivério Girondo e Oswald de Andrade. Trad. M.A.L de Barros e J. Schwartz. São Paulo: Editora Perspectiva, 1983.

SOUSÂNDRADE, Joaquim de. O Guesa. São Paulo: Demônio Negro, 2009 [1858].

SOUZA, Laura de Mello. O diabo e a Terra de Santa Cruz: feitiçaria e religiosidade no Brasil colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.

SOUZA, Laura de Mello. Inferno atlântico. Demonologia e colonização. Séculos XVI-XVIII. São Paulo: Cia das Letras, 1993.

STADEN, Hans. Viagem ao Brasil. Trad. Alberto Löfgren. Rio de Janeiro: Publicações da Academia Brazileira, 1930 [1556].

VAINFAS, Ronaldo. Trópicos dos pecados. Moral, Sexualidade e Inquisição no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 [1989].

VAINFAS, Ronaldo. A heresia dos índios. Catolicismo e rebeldia no Brasil colonial. São Paulo: Cia das Letras, 1995.

VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. História Geral do Brazil. Isto é do descobrimento, colonização, legislação e desenvolvimento deste Estado, hoje império independente, escripta em presença de muitos documentos autênticos recolhidos nos archivos do Brazil, de Portugal, da Espanha e da Holanda. Por um sócio do Instituto Historico do Brasil. Natural de Sorocaba. Madrid: Imprensa da V. de Dominguez, 1854, tomo primeiro (com estampas).

VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. Os Indios bravos e o Sr. Lisboa, Timon 3º. Lima: Imprensa Liberal, 1867.

VELOSO, Caetano. Álbum Bicho, de 1977. PolyGram. Universal Music.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Araweté: os deuses canibais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1986.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo; CAUX, Camila; HEURICH, Guilherme Orlandini. Araweté. Um povo tupi da Amazônia. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2016 [1992].

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A inconstância da alma selvagem – e outros ensaios de antropologia. São Paulo, Cosac Naify, 2011 [2002].

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Filiação intensiva e aliança demoníaca. Novos estudos do CEBRAP, São Paulo, n. 77, 2007. p. 91-126. Disponível em: https://www.scielo.br/j/nec/a/FLYCmByK8ddHyrFt9HfcMfM/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: dez. de 2020.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Xamanismo Transversal: Lévi-Strauss e a cosmopolítica amazônica. In: QUEIROZ, Rubem Caixeta de.; NOBRE, Renarde Freire. (orgs.). Lévi-Strauss. Leituras brasileiras. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2008. p.79-124.

Downloads

Publicado

2022-04-27

Como Citar

IEGELSKI, F. Figurações do canibalismo na história intelectual brasileira do século XX: ciências humanas, artes e temporalidades. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 15, n. 38, p. 39–66, 2022. DOI: 10.15848/hh.v15i38.1805. Disponível em: https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/1805. Acesso em: 19 abr. 2024.

Edição

Seção

Artigo original